Leituras de Ilca #21
Em um vilarejo desesperadamente pobre do nordeste da China, um jovem camponês está sentado em sua velha e frágil carteira escolar, mais interessado nos pássaros lá fora do que no Livro Vermelho de Mao e nas nobres palavras nele contidas. Naquele dia, porém, homens estranhos chegam à escola - os delegados culturais de madame Mao. Estão à procura de jovens camponeses que, depois de receberem a formação necessária, possam tornar-se os fiéis guardiães de grande visão de Mao para a China.
A trajetória de Li Cunxin é capaz de transformar a vida de um ser humano em apenas poucas letras,não sei ao certo quantas vezes li essa bela narrativa na certeza de que a cada nova página, um ânimo novo aquece o coração.
Nascido em uma cidade afastada da capital chinesa, o sexto filho de um simples casal camponês viveu - na verdade sobreviveu - 11 anos na certeza de que nunca sairia do fundo do poço, não haveria alternativa para aliviar seu estado de extrema pobreza. Inundado pela bandeira comunista do Líder Mao, Cunxin e seus compatriotas tinham suas vidas guiadas pelas decisões do partido comunista.
"Durante os onze anos da minha vida em Qingdao, convivi com a dura realidade de não ter comida suficiente para encher nossos estômagos, de ver a luta de meus pais, de assistir a gente morrendo de fome, de me sentir aprisionado no mesmo círculo vicioso de desesperança em que viveram meus antepassados. Tinha decidido sair daquele poço profundo e escuro. Não conseguia lembrar quantas vezes tinha desejado morrer para aliviar a carga financeira de meus pais. Teria dado a vida para ajudar a família, mas isso faria alguma diferença? Afinal, a quem pertence a vida?"
Escolhido graças a uma ajuda despretensiosa de sua professora primária,Cunxin vê sua vida mudar completamente ao ser escolhido para estudar ballet na Academia de Artes de Madame Mao. Sem ver sentido naquela vida árdua e cheias de sacrifícios ele sequer se esforça. Entretanto, com a perspectiva de finalmente mudar a vida de sua família ele ingressa em uma trajetória comovente que entrelaça suor, sacrifícios, embates políticos e a descoberta da verdadeira vida que o comunismo esconde.
"Nada vem facilmente. Não há como cortar caminho. As coisas só acontecem quando se trabalha por elas. O tempo deve ser valorizado."
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