Leituras de Carol nº 694
Título original: The Visible Man
A terapeuta Victoria Vick é contatada por um homem que acredita viver uma situação ímpar e exige que suas sessões se deem por telefone. Ela aceita, mas, com o avançar das conversas, ele se revela um homem enigmático, o que a faz se convencer de que ele está delirando. Y____, como ela decide chamá-lo, é um homem inteligente, bem-educado e culto, e alega ser um cientista que vem utilizando uma tecnologia de camuflagem. Ele afirma que é impossível para qualquer pessoa vê-lo enquanto usa o traje que desenvolveu, mas foge do termo “invisibilidade”.
A um só tempo lúcido, tenso e divertido, o romance O homem visível, de Chuck Klosterman, trata de diversos temas da modernidade – como a importância da cultura, a influência da mídia, o voyeurismo e a contradição existente em ser uma pessoa considerada “normal”. Quando publicado nos Estados Unidos fez enorme sucesso, sendo aclamado pela crítica e pelos leitores.
Mais do que um romance sobre um homem com uma possível habilidade especial, O homem visível analisa dois lados de uma mesma história: as atitudes das pessoas quando não estão sendo vistas, e a conduta ética de quem está observando sem ser visto. Klosterman criou um paralelismo entre o voyeurismo e desejo ardente de assistir o sofrimento alheio, ambos presentes tanto no livro quanto na sociedade.
No fim, o livro fará o leitor refletir: é possível alguém se tornar invisível aos olhos de uma sociedade que busca cada vez mais descobrir, neste mundo midiático e repleto de informação, o que se passa na vida alheia?
Quando a Bertrand enviou aos parceiros o release com os lançamentos para o mês de janeiro, a jornalista que sou ficou curiosa com a parte final da sinopse desse livro. "O homem visível, de Chuck Klosterman, trata de diversos temas da modernidade – como a importância da cultura, a influência da mídia, o voyeurismo e a contradição existente em ser uma pessoa considerada “normal”".
Afinal em tempos em que as pessoas são de Facebook, Big Brother, A Fazenda e tantos reality shows (para mim, de real não tem nada... é tudo roteirizado) que fazem da vida alheia a atração e tornam o voyeurismo aceitável, ler sobre alguém que o faz tendo como "propósito científico" dar uma espiadinha (apesar de passar o livro inteiro negando) na vida das pessoas é bem atraente.
Chuck Klosterman nos traz a história de modo inusitado, sua narrativa é feita a partir dos flashbacks da terapeuta Victoria e para isso o autor usa transcrições de áudio, emails, notas de rodapé e vários outros recursos que fogem da linearidade. Ela está tentando vender um livro com a história, pois (como ela já deixa bem claro) foi tudo que restou a ela fazer, pois Y foi seu paciente mais intrigante, afinal ele não se encaixa em suas concepções pré-definidas.
No decorrer da narrativa vemos Y fazendo comentários sarcásticos sobre o comportamento humano, mas acha que o seu comportamento em "ser invisível" e xeretar a vida alheia é aceitável ( a justificativa que ele dá a Victoria é a preocupação científica da sua empreitada... sei... senta lá Cláudia).
A forma como Y apresenta suas teorias (contando histórias e mais histórias de como entrou e observou as pessoas) deixa Victoria fascinada, ao ponto de praticamente abdicar de sua vida (alguma semelhança com alguns espectadores dos realities show não é mera coincidência). Seus comentários ácidos sobre como as pessoas são diferentes e têm um mundo que é "mostrado para os outros" e outro totalmente diferente quando estão sozinhas em suas casas são contundentes, mas como apontar o erro do outro é sempre mais fácil, Y em nenhum momento questiona se o seu comportamento é, no mínimo, eticamente aceitável.
Chuck Klosterman, através de Y, solta farpas para a ciência
"A ciência para a maioria das pessoas é algo que usamos. Isso, no entanto, é uma falácia. Há um problema nesse discurso. A lógica sugere que a ciência está melhorando o mundo, e isso não é verdade. É o que se chama de forçar a barra. A ciência é sempre uma forçação"
Para o cinema
"É por isso que filmes têm muito menos valor do que pensamos... os filmes não podem mostrar a realidade porque representações honestas da realidade ofendem as pessoas inteligentes"
Para o comportamento das pessoas em relação a tv,
"A televisão é uma forma de entretenimento de uma só via, mas não é assim que as pessoas querem pensar nela. Querem acreditar que estão envolvidas de alguma forma. É por isso que conversam com a TV... Acreditam que suas experiências pessoas coma televisão produzem um efeito no que a televisão é. Mas essa crença só existe em relação à televisão. Em suas vidas reais, elas se sentem impotentes... Pensam que se importam com algo é um risco. Presumem que não exercem controle sobre nada e por isso nem tentam"
Aos seriados (até eu que não assisti Lost entendi a alfinetada).
Para as redes sociais, principalmente para o Facebook.
"É por isso que o Facebook deu certo entre os adultos. O site foi planejado para pessoas que querem divulgar suas crianças sem o consentimento dos outros".
Não esperem tiros, ação turbulenta ou um romance entre Victoria e Y, o foco aqui não é a história em si, mas toda a reflexão que se faz sobre a atual forma em que vivemos a vida.
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